O Jogo e a personalidade


É impressionante como, através de um simples jogo, nos é possível ficar a conhecer a personalidade e o carácter daqueles com quem jogamos!...
Salvo raras, honrosas e estimulantes excepcões, a desilusão torna-se uma constante.

Pertencendo a uma geração pré-internet sou do tempo em que, nos momentos de ócio, jogávamos cartas, o monopólio, o Cluedo e afins.
Com o tempo, as responsabilidades e preocupações relacionadas com a família e o trabalho, fiz um grande interregno nesse tipo de actividades lúdicas.

Agora que estou muito mais livre, com o computador, internet e a múltipla oferta de jogos que existe, recuperei o prazer de jogar e empenho-me nos jogos que seleccionei (apenas três!) da mesma forma que me empenho em qualquer uma outra actividade que seja do meu interesse.

Tomarei como exemplo e referência o Word Blitz, um jogo de construção de palavras a partir de letras dispostas aleatoriamente no campo de jogo.
Quantas mais palavras conseguirmos encontrar mais pontos ganhamos.
É cronometrado e jogado contra amigos e adversários aleatórios. 
Acontece que, lamentavelmente, o jogo está concebido para o Português do Brasil (como quase toda a produção em língua Portuguesa na internet!!!), o que nos deixa em desvantagem pois eles têm toda uma panóplia de vocábulos que desconhecemos e ignoram muitos dos que fazem parte da língua mãe.
De qualquer maneira, atendendo à ausência de recursos na língua original, lá tenho vindo a fazer esforços e a procurar adaptar-me, depois de uma inicial fase de revolta e de sugestões não atendidas.

Voltando ao tema inicial, esta tem sido uma experiência interessante pois, para além de me ficar a conhecer melhor a mim própria, também me tem permitido conhecer os meus adversários, a sua forma de ser e de estar perante as diferentes situações de vitória e de derrota.
Como em todas as situações na vida, a experiência é um factor importante, mesmo fundamental, e é preciso persistir para se conseguir algo.
É através do permanente exercício de "tentativa e erro" que vamos aprendendo e melhorando as nossas performances e que a inteligência nos livre de termos medo dos desafios.

Entre os jogadores, vamos encontrando de tudo, e muito embora não os conhecendo na vida real, vamos  ficando a percepcionar, e a admirar ou desprezar, não só a forma como interagem como a sua postura no decurso do jogo e face às vitórias e/ou derrotas que vão sofrendo. 

Existem aqueles (uma minoria!!!) cujo esforço, humildade e perseverança nos animam, incentivam, se tornam dignos do nosso respeito e consideração ao ponto de ficarmos com receio de os penalizar e de termos vontade de os conhecer e, quem sabe, abraçar, e depois há os outros, os arrogantes, cheios de si próprios, aqueles que não suportando uma derrota, não olham a meios para atingir os seus fins.
Entretanto, de entre estes últimos há os que, estando a perder sistematicamente, mal conseguem uma vitória se retiram de cena e da concorrência e os que abusam da supremacia que têm no jogo e que, estrategicamente evitados, persistem em se impor com o objectivo de acumular pontos face à desvantagem dos seus oponentes.

O jogo é, assim, uma actividade que permite avaliar, não só as capacidades de cada um, em determinada área como, também, a sua forma de ser e estar na vida real, constituíndo um terreno fértil de reprodução do perfil comportamental de cada um.

Com o que tenho vindo a constatar e se eu fosse empregadora, para além da avaliação das competências específicas, sentir-me-ia tentada a incluir, no processo final de selecção de candidatos, um desafio/jogo que envolvesse, simultaneamente, não só o factor competição como a estratégia/estratégias utilizadas na persecução dos objectivos a alcançar. 

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