Nelson Mandela, O confronto entre a Razão e as emoções

 
«...O que é sempre difícil, na vida, não é o facto de influenciarmos e mudarmos os outros, o problema mais difícil é mudar-nos a nós próprios, de acordo com as condições com as quais nos confrontamos.
E um dos problemas mais difíceis com que se debateram aqueles que estavam nas cadeias, no exílio e todos os que trabalhavam no terreno, era conciliar as nossas emoções com o nosso pensamento.
O sentimento geral era o de que em nenhuma circunstância nos deveríamos sentar com o regime do Apartheid que, durante séculos, nos sujeitou a algumas das mais dolorosas experiências que possam imaginar. Por essa razão era, para nós, impensável sentarmo-nos à mesa com os nossos inimigos e conversarmos.
Mas a Razão dizia-nos que se não nos sentássemos com eles, o nosso país seria reduzido a cinzas e milhares de civis inocentes seriam massacrados. As infraestruturas do país seriam destruídas e o desenvolvimento social cessaria... 
E o problema foi conciliar estes dois factores - os nossos sentimentos e o nosso pensamento!
Enfrentámos problemas entre os nossos próprios colegas e camaradas; enfrentámos problemas com o inimigo que, continuadamente e durante décadas, dizia "não negociaremos nunca com terroristas"... 
E tivemos que encontrar uma via de forma a que todos pudessem transpor os obstáculos sem humilhação.

Foi através da habilidade para conciliar estas duas contradições que fomos capazes de conduzir o nosso país a uma transformação pacífica e de desconcertar os profetas da desgraça que prediziam ser impossível haver uma mudança pacífica entre nós e de que qualquer tentativa para operar transformações mergulharia a África do Sul em rios de sangue...

Fomos capazes de lhes provar que estavam errados porque, antes de mais nada, fomos capazes de nos transformar a nós próprios.

E qualquer pessoa que aspire a ter impacto na sociedade, tem de começar por si mesma.»

Mandela, Nelson (2000)
Nelson Mandela: "Africa and Its Position in the World Today"
LSE - 06/04/2000

Tradução e Adaptação: Maria M. Abreu

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