Os Três Filhos, Guiné-Conacri
Apreciadora dos contos tradicionais - existentes em todas as culturas - enquanto veículos de transmissão de conhecimentos e, sobretudo, de sabedoria entre gerações (era essa a sua função inicialmente, quando prevalecia a tradição oral) pareceu-me uma boa ideia traduzir e partilhar este pequeníssimo exemplar que faz a apologia da verdade como virtude.
« O Reino de Sabou (pequeno reino da Guiné) tinha um poderoso chefe de nome Moro.
Moro, para além de ser um chefe poderoso era, também, o detentor do ceptro de Viziok, uma vara mágica que lhe permitia controlar as tempestades.
Um dia Moro, que sentia aproximar-se o fim dos seus dias, chamou os filhos a fim de lhes falar:
- Ouçam, filhos! Sinto-me enfraquecido, sem forças e chegou a hora de o mais corajoso de entre vós me substituir.
Entretanto, para que eu escolha o meu sucessor, preciso que cada um de vós me conte aquela que consideram tenha sido a vossa mais fantástica façanha.
O primeiro dos seus filhos tomou a palavra e disse:
- Pai, recordas-te do momento em que os invasores atacaram o nosso reino? Eu, sozinho, combati-os e derrotei-os tendo como única arma as minhas mãos, apesar de eles serem numerosos e estarem fortemente armados.
Depois falou o segundo filho:
- Pai, lembras-te quando os leões da grande floresta atacaram o nosso povo?
Sozinho, tive a ousadia de os combater e de os matar tendo como única arma os meus punhos.
Por fim, falou o terceiro filho de Moro:
- É verdade que fomos atacados por invasores e por leões.
Quanto a mim, não os combati sozinho nem com as minhas mãos.
Peguei nas minhas melhores armas e chamei o exército, o que permitiu vencer os leões e afastar os nossos agressores.
O velho chefe, depois de ter ouvido os seus três filhos, refletiu durante muito tempo e chegou à conclusão de que o filho mais corajoso era aquele que tinha dito a verdade, o seu terceiro filho.
Moro chamou-o e disse-lhe:
- Tu disseste a verdade e és, por isso, o mais corajoso.
Entrego-te o ceptro de Viziok que te permitirá chefiar o reino de Sabou quando eu partir.
Os seus dois outros filhos aprenderam, à sua custa, que dizer a verdade é, geralmente, o acto mais corajoso que existe neste mundo.»
Dominique Baumont - Afrique
Ilustr. Michel Sovogui (Guiné Conacry)
Tradução e adaptação
Maria M. Abreu
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