Os Três Anéis
«Havia um sultão que tinha como conselheiro um velho judeu muito sábio.
Certos cortesãos, ciumentos, juraram fazer tudo para o afastar e sugeriram ao sultão perguntar-lhe qual era a mais certa, de entre as três religiões resultantes da linhagem de Abraão: se a judaica, a cristã ou a muçulmana.
Independentemente da resposta do conselheiro, pensavam, poderia sempre ser acusado de deslealdade ou de duplicidade e enviado para o exílio.
Depois de ter sido interrogado, o conselheiro disse ao sultão:
- Para responder à sua questão, tenho de lhe contar uma história:
"Em tempos houve um rei que possuía um anel, emblema do seu poder e sabedoria, que tinha recebido do seu pai e que se transmitia de geração em geração desde a noite dos tempos.
Na parte interior do anel estava gravada uma Fórmula Sagrada, que escondia o Segredo da Vida assim como a chave para decifrar esta fórmula, em letras minúsculas.
O rei tinha três filhos a quem amava igualmente.
Ao aproximar-se o momento da sucessão, ele não foi capaz de decidir a qual transmitir o anel.
Pensou, assim, levar o seu anel a um ourives competente e mandá-lo fundir pedindo-lhe que fizesse três anéis o mais idênticos possível, entre si.
No primeiro, mandou gravar a Fórmula Sagrada com apenas uma parte da chave de interpretação, em letras minúsculas.
No segundo mandou, igualmente, gravar a Fórmula acompanhada de outra parte da mesma chave de interpretação.
No terceiro, enfim, mandou inscrever a Fórmula e a parte restante do código.
Assim, pensava ele, os seus filhos seriam obrigados a trabalhar em conjunto, no caso de quererem tirar pleno partido da Fórmula Sagrada pois, para isso, seria necessário recorrer à totalidade da chave de interpretação, o código.
Antes de morrer distribuiu secretamente os anéis por cada um dos seus filhos.
Chegado o momento da escolha do novo monarca cada um dos três príncipes mostrou o seu anel para justificar o seu direito à sucessão, convencido de que estava de posse do original.
Nem mesmo os maiores sábios conseguiram resolver o enigma de saber quem detinha o anel original.
Cada um dos príncipes estabeleceu, então, o seu próprio reino convencido de que era o herdeiro legítimo do seu pai e de que possuía a verdadeira chave de interpretação da Formula Sagrada.
E durante gerações os descendentes dos três irmãos defenderam acaloradamente, por vezes com recurso às armas, as suas convicções e os seus reinos.
Até hoje ninguém conseguiu que chegassem a um consenso e se reconciliassem."
- Esta minha história – disse o astucioso conselheiro ao sultão – é a resposta à sua questão.
O sultão inclinou-se diante da sabedoria do velho judeu, nomeou-o grão-vizir e enviou para o exílio os cortesãos conspiradores.»
Ilustração do Google
metaphora.ch
Trad. e adapt.
Maria M. Abreu
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