Atitudes

 
« Naquela manhã chovia torrencialmente.
Era uma chuva forte, penetrante, que não convidava ninguém a sair.
Havia, entretanto, três pessoas, cada uma na sua respetiva casa, que se preparavam para enfrentar a intempérie.
O primeiro, usando um chapéu de palha, óculos de sol cor-de-rosa no nariz e vestindo umas simples bermudas floridas saiu, procurando convencer-se de que estava um tempo óptimo, cantarolando bem alto.
Alguns minutos mais tarde foi parado pela polícia que o levou para a prisão, onde acabou por morrer de congestionamento, no próprio dia.
Tinha-se recusado a enfrentar a realidade e acreditava que o simples facto de negar a existência da tempestade seria suficiente para a ultrapassar…
O segundo, por detrás da sua janela, pensou que não seria de modo algum razoável aventurar-se a sair com semelhante tempo e que seria preferível esperar pelo dia seguinte ou, mesmo, dois dias depois.
Mas a chuva não parava de cair, cada vez mais forte à medida que os dias iam passando.
Ao fim de algumas semanas, acabou por morrer de fome.
Olhando para a tempestade, acabou por se debruçar sobre si próprio e não reagir, sempre na esperança da chegada de uma hipotética acalmia do tempo.
Quanto ao terceiro, face à mesma situação de forte chuva, decidiu pôr-se a caminho, enquanto verificava a solidez do seu guarda-chuva e a resistência do seu impermeável.
Passou depois em revista os encontros que tinha agendado para o dia e abriu a porta.
No exterior, a tempestade rugia. Hesitou por instantes, recompôs-se e murmurou entre dentes: “Nunca vi semelhante temporal! É desumano! Não é seguramente hoje que os concorrentes vão congestionar o sector.”
Enchendo-se de coragem, lançou-se na tempestade convencido de que os verdadeiros navegadores só se distinguem entre si quando o mar está alteroso...
E, como seria de esperar, triunfou!»

Frédéric Chartier
Petit conte philosophique à l’usage des vendeurs que la crise inquiète...(2005)
Tradução e adaptação: Maria M. Abreu

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