Ervas Daninhas
«Um velho monge dirigia-se, lentamente, para a aldeia, apreciando o ar doce e perfumado da manhã.Assim que chegou às primeiras casas apercebeu-se de um rapaz que estava sentado e só, enquanto outras crianças brincavam em conjunto. Parecia ter um olhar vazio…
O monge aproximou-se e, sem dizer nada, sentou-se ao seu lado.
O rapaz virou a cabeça e observou o monge, em silêncio.
Imitando a criança, o velho monge poisou as suas mãos sobre os joelhos, com o olhar fixo em frente.
De vez em quando olhava de lado, sorrateiramente…
Ao fim de algum tempo a situação tornou-se cómica. Face às suas expressões faciais a criança sorriu, o monge também e desataram ambos a rir.
Era como se uma torneira se tivesse aberto …
- O meu pai diz que eu não valho nada, não sei ler e falho tudo o que me pede para fazer.
O velho monge sorriu …
- Enganas-te, fizeste-me rir, deste-me alegria e estou-te grato por isso.
A criança fez uma expressão de dúvida.
Então o monge apontou para as plantas que cresciam ao longo do caminho e através das fissuras das paredes das casas e perguntou:
- Sabes o que isto é?
- Sim, sei, são ervas daninhas. O meu pai pediu-me que as arrancasse e nem isso fui capaz de fazer…
- Provavelmente porque tu sabes …
- Sei o quê?..., perguntou o rapaz, perplexo
- Que não são ervas daninhas… Elas escondem-se, passam despercebidas, toda a gente as arranca, mas elas são especiais …
- O que têm elas de especial?...
- Vês aquela que cresce na fissura da parede?
- Sim, vejo…
- Pois bem, as suas raízes secas e reduzidas a pó servem para combater a febre; e a outra, a que cresce no meio do caminho, suaviza a garganta e acalma a tosse…
O rapaz escutava, abismado!...
- Aquela, ali, acalma as dores de barriga e as cólicas dos bébés …
O monge continuou a mostrar-lhe uma quantidade enorme de “ervas daninhas” que cresciam à volta deles e, segundo ele, todas tinham uma função.
- Todas estas plantas a que, com frequência, chamamos “ervas daninhas” contêm um tesouro em si próprias. Aquele que conhecer o seu segredo será capaz de curar ou aliviar muitos problemas…
Todas têm uma grande riqueza dentro de si; não podemos olhar para elas só pela aparência, mas pelo que têm e são na sua essência…
- É verdade que podem curar?...
- Sim, e eu penso que, no fundo, tu sabias e que foi essa a razão pela qual as não arrancaste…
Se quiseres ir para o mosteiro, poderás aprender a conhecê-las …
O rapaz aceitou e o pai ficou satisfeito, pois seria menos uma boca a sustentar.
Foi crescendo, aprendendo e tornou-se um jovem robusto e com inesgotáveis conhecimentos sobre plantas.
...Um velho monge dirigia-se, lentamente, para a aldeia, apreciando o ar doce e perfumado da manhã.
Assim que chegou às primeiras casas, dirigiu-se para uma especial.
Era uma loja onde se vendiam plantas para tratamento de doenças e que tinha uma tabuleta:
“Aqui não há ervas daninhas”.
De dentro saiu um homem jovem e sorridente e, com ele, uma miscelânea de diferentes aromas.
Olhando um para o outro sentaram-se depois, lado a lado, sem dizer palavra.
O monge imitou o jovem e colocou as mãos sobre os joelhos, com o olhar fixo à sua frente.
De vez em quando, olhava de lado, sorrateiramente…
De repente o jovem e o monge desataram a rir à gargalhada…
O essencial vê-se com o coração.
“Aqui não existem ervas daninhas”.»
Ilustr. Janet Duncan, "Through the weeds"
Contes philosophiques
Trad. e adap.: Maria M. Abreu
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