Comprar o tempo
« Há alguns dias atrás um homem entrou em casa, tarde como sempre, cansado e aborrecido. O filho, de 6 anos, esperava-o à porta.
- Pai, posso fazer-te uma pergunta?
- Claro!
- Quanto é que tu ganhas por hora?
- Não tens nada com isso. Que raio de pergunta.
Respondeu o pai, zangado.
- Só queria saber ... por favor, pai, diz-me …
- Bom...se queres saber, ganho 35 euros por hora.
- Oh! murmurou o filho, cabisbaixo... Levantando, depois, a cabeça, perguntou:
- Podes emprestar-me 10 euros, pai, por favor?
O pai ficou furioso.
- Se querias saber quanto ganho só para me pedires dinheiro emprestado para comprares uma porcaria qualquer, podes ir já para o teu quarto e deita-te.
Será que és egoísta a esse ponto?! Eu trabalho muito e não tenho tempo a perder com estes disparates...
O miúdo foi-se embora e fechou-se no quarto. O pai, entretanto, sentou-se irritado.
Ao fim de algum tempo, já mais calmo, começou a sentir que tinha sido demasiado severo ... Talvez o filho quisesse comprar algo de que precisava realmente, qualquer coisa que, para ele, era importante.
Resolveu, então, ir ao quarto do filho.
- Sei que fui um pouco duro contigo. Toma lá os 10 euros que me pediste.
O garoto endireitou-se, radiante.
- Obrigado, pai !
Depois, tirou algumas notas amassadas debaixo da sua almofada e começou a contá-las cuidadosamente.
- Porque é que querias dinheiro se, afinal, já o tens?
Perguntou o pai.
- Não tinha o suficiente, pai. Agora já tenho 35 euros.
Será que posso comprar uma hora do teu tempo?»
Ilustração: "Father and son", Desray
metafora.ch
Trad. e adaptação
Maria M. Abreu
Quando uma criança chega ao ponto de sentir a necessidade de "comprar o tempo" dos pais para com eles poder estar, conversar e conviver, algo de muito errado se passa na sociedade em geral e nas famílias, em particular. Este episódio pretende alertar para a urgência de fazermos os esforços possíveis no sentido de estabelecermos prioridades que não descurem aquilo que é essencial enquanto pais e educadores: o tempo dos filhos e o tempo para os filhos.
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