Herança sem preço, "No poupar é que está o ganho"

 
Frase de infinita sabedoria que me acompanhou ao longo da minha infância e adolescência e cujo conteúdo se me revela hoje, em todo o seu esplendor, enquanto fórmula essencial a aplicar em cada minuto e a todas as horas do nosso quotidiano.
Eram os sapatos, cujas solas já gastas de tanto uso iam para o sapateiro, a fim de serem arranjados; eram os chapéus-de-chuva cujas varetas partidas necessitavam da intervenção do chapeleiro; eram as facas e as tesouras que, de tempos a tempos, eram entregues aos cuidados do amolador que, montado na sua velha bicicleta, se fazia anunciar ao som característico da sua harmónica e eram, também, as collants das senhoras que, danificadas por uso e/ou descuido, mereciam a atenção de quem as sabia reparar, a fim de que durassem mais algum tempo...
Tudo..., tudo isto fazia parte da cultura rotineira de boa parte das famílias portuguesas, mesmo daquelas que viviam sem grandes dificuldades.
Era a cultura do reaproveitamento a que tanto se apela hoje em dia.
E ainda assim era, há cerca de trinta anos atrás!...
Evitando o desperdício, servíamo-nos uns aos outros, com a consciência de nos entreajudarmos.
Não interessa o que se passou depois...é para esquecer...até porque durou pouco tempo, atendendo à sua irracionalidade!...
Dou comigo a pensar que é preciso, mesmo obrigatório, retomar "o fio da meada" e prosseguir na senda desta herança sem preço que era a sabedoria das nossas mães e avós.
Abençoadas sejam por, sem se terem apercebido, nos ajudarem a procurar remar contra a assustadora maré que é a crise económica e financeira que persiste em se abater sobre todos nós.
06/11/2012
Ilustr. Sam Toft

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