O Lobo branco e o Lobo preto

 
«Quando, um dia, um filho foi ter com o pai, porque estava muito zangado com um amigo que tinha sido injusto para com ele, o pai disse-lhe:
-"Deixa-me contar-te uma história ...
Também me acontece, por vezes, sentir uma grande revolta contra aqueles que procedem mal e não manifestam qualquer arrependimento.
Mas a raiva que sentes só te desgasta e não atinge o teu inimigo.
É como se engolisses veneno e desejasses que o teu inimigo morresse em consequência.
Já tive de combater esses sentimentos várias vezes."

E continuou:

"É como se vivessem dois lobos dentro de mim; um é bom e não me faz mal.
Vive em harmonia com tudo o que o rodeia e não se ofende quando não há nenhuma razão para ser ofendido.
Ele só luta quando é necessário agir e fá-lo de forma justa.
Mas o outro lobo, ahhhh!... Está cheio de raiva.
À mais pequena coisa precipita-se em acessos de fúria. Ele luta contra não importa quem, o tempo todo, sem motivo. E não é capaz de pensar porque a sua raiva e o seu ódio são imensos.
Está sempre desesperadamente irritado e, no entanto, a sua indignação não leva a nada.
E, com alguma frequência, é muito difícil viver com estes dois lobos dentro de mim, porque ambos querem dominar o meu espírito."

O rapaz olhou atentamente para o pai, olhos nos olhos e perguntou:

"E qual dos lobos vence, pai?"

O pai sorriu e respondeu docemente:

- "Aquele que eu alimentar."»

Trad. e adaptação
Maria M. Abreu

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