Geração perdida

 

Eles eram novos, mesmo muito novos e, apesar dos seus diferentes percursos foram, um a um, sendo apanhados como tordos ... 

Partiram todos cedo de mais!...

Unidos por uma amizade profunda, muitas cumplicidades, muitos desvarios, uma fatal atracção pelo risco e viciados em adrenalina, viviam num perigoso mundo de ilusões alimentado pelo consumo de substâncias psicotrópicas (vulgo drogas), um flagelo que assolou a sociedade Portuguesa, ao tempo!

Muito genuínos tinham também, em comum, uma enorme generosidade (sempre me confundiu esta característica em todos aqueles que conheci) e uma desmedida sofreguidão por consumir os prazeres da vida, alheios à necessidade de passar e vencer as diferentes etapas do normal processo de crescimento, tão necessárias ao prazer que é, também, aprender a gozar, prolongar e saborear cada momento.

Entretanto, conscientes das perturbações que causavam mas incapazes de reverterem a situação, foram motivo de muito sofrimento, grandes dramas, muitas angústias, enormes discórdias, inúmeras alterações de percurso no seio das suas famílias e, em última instância, da desagregação de algumas.

Quanto a estas, remetidas para silêncios de vergonha feitos, à época, iam definhando na intimidade das quatro paredes de suas casas, por se sentirem incapazes de lidar com os efeitos, diretos e indiretos, familiares e sociais da toxicodependência dos filhos e impotentes perante a dimensão e poder do "monstro"e dos monstros que procuravam enfrentar.

Um rasto de devastação (física, moral e material) que a todos atingiu e ao qual nenhum dos envolvidos escapou salvo, provavelmente, a quem fez desta realidade um negócio.

Ilustração: Miguel P.A.

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