Tia Anita, Envelhecer com graciosidade


Itzchak Tarkay

A tia Anita era uma daquelas tias emprestadas, mas uma tia a sério, daquelas que conhecíamos desde a mais tenra idade, que sempre fizeram parte das nossas vidas, amiga dos meus avós e, por inerência, da sua prole e restante família.

Não sei se era bonita, na verdadeira acepção da palavra mas, para mim, ao tempo, nos seus setenta e poucos anos era lindíssima, sempre muito bem arranjada, discretamente pintada, impecavelmente penteada, cabelos cor de cinza com tonalidades azuladas, como as senhoras com um pouco mais de sofisticação usavam, na época.

Não era rica, nem poderosa, mas chamava à atenção por onde passava pelo seu porte, pela sua postura, pela sua senhoril genuinidade. 

Viúva, sofrida, mas sempre carinhosa e com um sorriso nos lábios, vivia muito discretamente, com algum requinte e muita dignidade.

Saboreei com alegria e alguma vaidade todos aqueles momentos em que me convidava para ir à "baixa" e, depois de vermos as montras, nos sentávamos na Central, uma pastelaria reputadíssima, ao tempo, em Coimbra, a saborear as deliciosas e únicas torradas que lá se serviam.

Lembrei-me muito dela hoje, na sequência das minhas reflexões sobre a idade, as limitações que ela nos impõe (sejam elas de cariz físico e/ou psicológico), os estragos que ela, inevitavelmente, produz em nós, nos nossos corpos, na nossa aparência, como nos vai transformando mas, sobretudo, na forma como a aceitamos, como a ela reagimos, como dela vamos dando conta e a ela nos vamos adaptando...

E é aqui que entra a Tia Anita ... um exemplo de uma senhora que se não deu por vencida e teve a inteligência e a arte de envelhecer, não só com dignidade mas com uma enorme graciosidade.

(Fevereiro 22, 2022)

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