Depois de tantos anos e após diferentes governos de diversos espectros políticos eis que se começou a dar atenção à miserável tabela salarial que tem sido a nossa ao longo de décadas.
Tudo isto, entretanto, com o objectivo de procurar estancar a mais do que evidente intensificação da fuga de cérebros e/ou jovens promissores para outros destinos que, recebendo-os de braços abertos, lhes reconhecem o mérito, o valorizam e estimulam.
O Sr. Primeiro-Ministro tem apelado ao esforço e boa vontade dos empresários e entidades empregadoras, em geral, para aumentarem os salários daqueles que contratam mas nunca o ouvi referir-se à necessidade, premente, de reduzir a carga fiscal sobre os rendimentos de quem trabalha.
À excepção do IL (Iniciativa Liberal) nunca tinha ouvido, até então, nenhum Partido político, nem nenhum sindicato ou qualquer outro grupo de intervenção socio-política abordar um tema que tem tanto de óbvio como de inconveniente para a maior parte das forças de intervenção nacionais.
Trabalhadores em Portugal recebem 72% do salário bruto que lhes é pago
«De acordo com o relatório da OCDE, líquidos de benefícios, os impostos e as contribuições para a Segurança Social pagos diretamente pelos trabalhadores absorveram, em média, 28,0% do salário bruto dos portugueses no ano passado, tendo em conta um trabalhador com salário médio e sem filhos.
Este valor coloca Portugal acima da média da OCDE, onde os impostos e contribuições para a Segurança Social representaram, em 2021, 24,6% daquilo que recebeu o trabalhador solteiro, sem filhos e com um salário médio.
Portugal surge como o 12.º país onde a diferença entre o valor bruto e o valor líquido é maior...»
Um Exemplo (bem real e baseado num recibo de vencimentos do mês passado):
* Francisca, solteira, operadora de supermercado, no concelho de Oeiras *
Rendimento ilíquido: 855,00 euros (contabilizadas horas extraordinárias)
Descontos para o Estado (Seg. Soc. incluída): 264,20 euros
Rendimento líquido: 590,80 euros
Como é solteira (e os solteiros, que vão sendo em cada vez maior número, são altamente penalizados por este governo!) não tem nenhuma outra alternativa que não seja viver num quarto arrendado ou partilhar um apartamento de 2 quartos com uma outra pessoa.
No caso em referência optou pela segunda modalidade e pagam de renda 700,00 euros/mês (o que é um achado, na zona!).
Como tal a Francisca deduz 350,00 euros ao rendimento líquido que recebe e fica, apenas com 264,20 euros disponíveis para pagar não só as suas despesas correntes relacionadas com os consumos domésticos, como também a alimentação e, em algumas ocasiões, o próprio passe social (transportes).
Conclusão:
A Francisca trabalha, produz, contribui activamente para a riqueza do país e, do pouco que ganha, ainda tem de entregar ao Estado 31% (30,9) do seu rendimento mensal!...
Ora, atendendo à proporcionalidade dos descontos, de que vale à Francisca ou ao António e quejandos que os salários aumentem se, depois, este mesmo Estado glutão, que precisa de angariar fundos e optou por fazê-lo à custa de quem trabalha e produz para alimentar as suas generosas medidas políticas distributivas, lhe vai comer os aumentos com a percentagem de impostos que cobra!?...
Entretanto, quanto às "generosas medidas políticas distributivas", os Centros de Emprego estão cheios de cidadãos inscritos e, ironicamente, há falta de trabalhadores nos mais diversos sectores de produção e distribuição!...
Algo tem de mudar radicalmente ou estaremos condenados a uma tripla miséria: a intelectual, a material e a moral ...
(Julho 20, 2022)
Escrito e publicado faz hoje precisamente 1 ano, fico espantada com a actualidade do tema e com o facto, recorrente, de vivermos durante anos consecutivos sempre com as mesmas preocupações, os mesmos dramas, os mesmos dilemas, sob o mesmo regime e governados pelo mesmo partido político (com maioria parlamentar!), o Partido Socialista.
O mesmo que, tendo gozado de condições únicas, todas as necessárias para trabalhar e fazer reformas estruturais, de fundo, tem demonstrado uma enorme falta de habilidade, de visão estratégica, mesmo de imaginação, deliberadamente ignorando o cerne dos problemas e persistindo em criar uma multiplicidade de medidas avulsas, de carácter meramente "paliativo", sempre e só à custa do sacrifício, do que mais parece ser uma penalização de quem trabalha e vai produzindo.
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