Missão cumprida
Depois de cumprida a missão que a mim própria impus, e finalmente liberta das preocupações e sacrifícios que acompanharam os aparentemente intermináveis anos de luta e determinação, são contraditórios e geradores de confusão os sentimentos que me invadem:
por um lado, um imenso alívio, um sentimento de libertação dos grilhões de que até há pouco estava prisioneira, atendendo a que parecia hercúlea a tarefa com a qual me tinha comprometido;
por outro, a confusão, uma estranha sensação de vazio que ainda não descobri como ultrapassar, como preencher, na exacta medida da personalidade que é a minha e das necessidades que se lhe adequem .
Mas descobri algo, ao longo destes poucos meses de libertação e liberdade a que há muito aspirava:
quero voltar para "casa", quero voltar para a mesma terra/cidade que me viu crescer, estudar, sonhar, conviver, ganhar experiência e perder, irremediavelmente, alguns dos entes que mais queridos me eram... Quero voltar para a cidade onde me tornei irmã, onde fui mãe, onde gozei, gargalhei, chorei e sofri as maiores desilusões da minha vida ...
quero voltar exactamente para o mesmo lugar de onde me senti obrigada a fugir, em nome de um bem maior, em nome de uma sanidade mental que perigava, não só em relação à minha pessoa mas, também e sobretudo, porque estavam em causa o equilíbrio e desenvolvimento (que queria fosse o mais harmonioso possível), daqueles que de mim eram dependentes.
E exigente como sou, o mero acto de sobreviver, a qualquer custo, independentemente das inevitáveis mazelas que tinham que acontecer, remodelando-nos, não me satisfazia, nem me satisfaz ...
Hoje, decorridos tantos anos, resta-me a esperança e peço, apenas, às instâncias superiores, que os eventuais danos que possam ter sido causados, aos meus, para além de transfigurados enquanto oportunidades de crescimento interior, sejam reduzidos à sua mínima dimensão, enquanto factores perniciosos.
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