D. Manuel Clemente, a sua complacência e autocomplacência

 

D. Manuel Clemente, Cardeal-Patriarca

D. Manuel Clemente, actual Cardeal-Patriarca de Lisboa e o seu antecessor, não só não agiram quando tiveram  conhecimento dos factos denunciados como permitiram que os comportamentos se repetissem e, mais grave ainda,  que estivesse criado o ambiente para a sua reprodução e o consequente emergir de novas vítimas!...

Enquanto "Prelado investido na dupla dignidade patriarcal e cardinalícia", com as inerentes responsabilidades que a Igreja católica lhe conferiu, cometeu um erro grosseiro não só enquanto eclesiástico como, também e fundamentalmente, enquanto cidadão com responsabilidades acrescidas.

Na sua Carta Aberta do Cardeal-Patriarca de Lisboa publicada hoje, dia 29.07.2022 refere, entre outras coisas, o seguinte:

"O meu antecessor acolheu e tratou o caso em questão tendo em conta as recomendações canónicas e civis da época e o diálogo com a família da vítima. O sacerdote foi afastado da paróquia onde estava e nomeado para servir numa capelania hospitalar."

Ora, quanto ao tratamento que foi dado só vem revelar, uma vez mais, a sempre latente contradição entre o que se pregava, ao tempo, a prática quotidiana nas diferentes organizações controladas pela Igreja e a enorme permissividade, perversão e cumplicidade que dominavam o pensamento e as intervenções da Igreja e do Estado, à época! 
O Sr. Cardeal-Patriarca não veio dizer nada de novo, por conseguinte, apenas corroborou as acusações que têm sido feitas, ao longo dos anos, pelos críticos da Igreja Católica.
Ao procurar defender o seu antecessor e a si próprio acabou por prejudicar a Instituição à qual pertence, que seria suposto defender e de que é um membro destacado.

Quanto à solução encontrada, embora desconheça as funções exercidas, ao tempo, numa capelania hospitalar o certo é que lidavam com pessoas altamente vulneráveis e, de acordo com a Agência ECCLESIA  "(...)Tinham uma grande aceitação entre os doentes e, além disso, tinham a maior consideração dos médicos, dos enfermeiros e de todos os profissionais de saúde. Não se pode fazer a história da capelanias sem esta referência expressa..." 

Contrariamente ao que seria de esperar - um afastamento compulsório - ao referido sacerdote foram atribuídas funções que, para além de lhe abrirem novas portas para a hipotética prossecução dos seus instintos de predador sexual ainda lhe garantiam a respeitabilidade (a que não tinha direito) e a absoluta confiança e consideração de todos aqueles que o rodeavam.

Resumindo e concluindo, aparentemente, o sacerdote em causa não só não foi alvo de nenhum castigo exemplar como, de forma negligente lhe foi oferecido, de bandeja, um estatuto que não merecia e do qual era indigno.

Ilustrações: Google
(Julho 30, 2022)

Faz hoje precisamente um ano que, atingido o limite da minha indignação, escrevi e publiquei este post.
Entretanto, pouco ou nada se sabe sobre o desenrolar dos diferentes processos, sobre as medidas estruturais que, eventualmente, possam ter sido tomadas para prevenir e evitar que se repitam os crimes em causa, que tipo de acompanhamento tem sido dado às vítimas (aqueles que tiveram a coragem de se manifestar) e se estará a ser dada alguma continuidade ao trabalho desencadeado elevado a cabo pela Comissão Independente .

A muito poucos dias de recebermos a visita (sempre muito calorosa!) do Papa Francisco para presidir à JMJ e uma vez que ele foi a "alma" e o grande impulsionador desta operação de "limpeza" - Tolerância zero - no seio da Igreja que chefia, imagino que ele faça uma abordagem ao tema e tenho alguma curiosidade em saber como e em que termos o fará.

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